Chávez entre amigos; a polícia de Rigotto, nem tanto

Por Solange Cavalcante
EmCrise – 26/01/2003

O presidente Hugo Chávez, da Venezuela, deve estar mesmo se sentindo em casa. Nesse domingo, 26, ele foi ovacionado por centenas de estudantes, sindicalistas, intelectuais e participantes do III Fórum Social Mundial na Assembléia Legislativa, em Porto Alegre. No ato em favor de seu país, ele falou à multidão de uma sacada e esteve no prédio da Assembléia para uma coletiva sob o coro de "Uh – Ah, Chávez no se va!".

Do lado de fora, militantes da União da Juventude Socialista (UJS), da União Nacional dos Estudantes (UNE) e do Sindicato dos Professores do Estado assustaram os policiais com bandeiras e palavras de ordem. Assustaram os jornalistas também, que reclamaram da impossibilidade de trabalhar no meio de gente tão mal educada. Uma jornalista foi embora, indignada. Foi pena. Ela perdeu de registrar o confronto entre policiais e estudantes.

A polícia empurrou a multidão, lançou spray de pimenta e brandiu cassetetes. A maior parte dos policiais não tinha identificação no uniforme. Antônio Branco, diretor do Sindicato dos Professores, procurou conversar com os policiais. Inútil. O tumulto durou cerca de dez minutos. O estudante Maurício Zimmerman gritava sua indignação: “Nunca, nos outros Fóruns, a polícia agiu dessa maneira. O Rigotto (Germano Rigotto, PMDB, governador do RS) chamou metade do efetivo do Estado para cá para reprimir nosso ato. O lema dele é que a polícia tem que soltar o freio de mão”.

No meio da confusão, esta repórter foi empurrada por um dos policiais. Que bom. A imprensa tem de ir aonde a grita está.

Enquanto isso, na coletiva...

As declarações de Hugo Chávez são contundentes. Ele diz, por exemplo, que as saídas para a América Latina têm de ser encontradas por ela mesma. “Nosso compromisso não é com o neoliberalismo. Ele cria desvios, como um mercado imoral em que não há igualdade. Nunca fomos consultados para nada, como a África nunca foi consultada. Lá, metade da população está infectada com o vírus HIV, até as crianças. O povo não tem água, muito menos tratamento médico. Enquanto isso, vivemos bombardeados pelo consumismo. Há vitrines maravilhosas com carros caríssimos e roupas luxuosas. Em que mundo vivemos? Por que os países ricos não reduzem os gastos militares? Se reduzissem esses gastos em 1%, já poderíamos pensar em viver melhor. A cada três segundos uma criança morre de fome”. Sem ser performático, ele conta: “1, 2, 3”. Isso impressiona.

“Temos que implantar uma nova ordem, a de cooperação sul – sul, e instituir uma área de produção de alimentos”, propõe o presidente.

Sobre Lula, Chávez é ponderado, mas genial: “O nome Lula não tem nada a ver com personalismo. Ele é nosso projeto”. Os jornalistas aplaudem.

O desdobramento desta reportagem é uma avaliação sobre: defender o governo Chávez? Ou o povo venezuelano? De que lado o povo está? E... quem é o povo?