Fascismo
e resistência nos EUA
Por Solange
Cavalcante
EmCrise – 26/01/2003
Após
participar do painel Governança Econômica Global, no Sábado,
25, no FSM, Kevin Danaher (Global Exchange) foi assediado pela
audiência e por diversos repórteres. O que todos queriam
saber: afinal, quem está pensando questões como desmilitarização,
democracia e patentes nos EUA nos tempos de George Bush?
Danaher:
Tem muita gente pensando, nos Estados Unidos, que investir em armamento
é estupidez, é criar terrorismo. Depois, não se consegue
bancar toda essa força militar, isso mina a Constituição.
Aí vêm uns idiotas no 11 de setembro e todo mundo começa
a pensar em cumplicidade com o terror. As pessoas perguntam por que não
houve uma investigação sobre a demora em pôr os caças
no ar. O chefe do serviço secreto estava em Washington naquele
dia. Seis meses antes ele tinha transferido 100 mil dólares para
Mohamed Atta, o sujeito que conduziu um dos aviões. Esse indivíduo
não foi preso nem foi interrogado. Foi para o Paquistão
e o demitiram ou se aposentou. Os atantados foram um enorme presente para
a direita. Não há mais União Soviética, não
há a quem atacar. Quem vamos invadir? México? Canadá?
China? O terrorismo é um inimigo perfeito. Graças a ele,
toma-se todo o dinheiro da sociedade para investir na guerra. Agora, os
órgãos de segurança podem entrar em sua casa, esconder
microfones e roubar papéis. Não há julgamento e eles
não se sentem obrigados a informar nada. É assustador. Somos
um Estado de um partido único. Os republicanos controlam os três
poderes do governo. Eles se entendem bem.
EmCrise:
Há algum movimento de resistência organizado?
Danaher:
Há três setores nos quais estamos trabalhando. Um deles é
o movimento que denuncia as práticas de corporações
específicas e luta por mudanças em suas práticas.
Há outro mais global, contra as políticas do FMI e do Banco
Mundial. A briga é pelo fim ou reforma dessas instituições.
Nisso estão envolvidos grupos feministas, ambientais, de direitos
humanos. E há um movimento de economia alternativa, no qual eu
desenvolvo alguns trabalhos relacionados a formas energéticas alternativas,
como a energia solar e a eólica. Temos milhares de pessoas que
querem construir uma sociedade alternativa, auto-sustentável, que
supra as necessidades do ser humano.
E
por que se ouve pouco sobre essa resistência?
Danaher:
Você não vai ver gente como eu na CNN. Em minha organização
trabalham duas pessoas em tempo integral. Tudo o que elas fazem é
tentar por nossa mensagem na grande imprensa. Mas é difícil
entrar no New York Times ou no Washington Post. Minha mulher é
especialista em pular no meio de todo mundo com mensagens de protesto
em encontros e reuniões. Ela tenta sair nas fotos dos jornais.
A gente faz uma porção de coisas desse tipo, mas as grandes
corporações controlam a mídia. Elas não querem
nenhuma crítica ao capitalismo e ao sistema no rádio, na
TV ou nos jornais.
Até
o fim do governo Bush, como estará a sociedade nos EUA?
Danaher:
É contraditório. Sob muitos aspectos, estaremos mais fracos,
porque as leis estão sendo mudadas. Os Estados Unidos estão
minando nossos direitos. O problema é que Bush não é
Saddam Hussein. O governo de Bush se diz democrático. O que vai
acontecer, em 2004, se ele disser que, por causa do terrorismo, não
vamos ter eleições? Ele não foi eleito pelo povo,
mas pela Suprema Corte conservadora. Daí que as pessoas começaram
a chamar de faccismo o que está acontecendo. O que é contraditório,
mas positivo, é que as pessoas estão se mobilizando. Por
todo o país as pessoas estão fazendo as maiores passeatas
desde a guerra do Vietnã.
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