Energia para resistir

Por Solange Cavalcante
EmCrise – 24/01/2003

Apesar de as barragens construídas para gerar energia elétrica sejam a causa do desalojamento de centenas de famílias no Brasil, é pouco provável que o presidente Luís Inácio Lula da Silva venha a público contra sua construção. Segundo Marco Antonio Dias, liderança do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), a suposição é devida aos objetivos do novo governo: “A aposta de Lula é no crescimento econômico, na indústria e no emprego. Agora temos de ver qual será a posição do MAB frente a esse projeto”.

Para Oriel Rodrigues, da comunidade quilombola de Ivaporunduva, no Vale do Ribeira, em São Paulo, são possíveis diversas alternativas energéticas para resolver a escassez iminente: “Há a energia eólica, a da queima de resíduos agrícolas e a solar. Mas os interesses das grandes empresas são muitos”. Ele se refere às siderúrgicas, às indústrias petroquímicas e de alumínio. “Essas empresas são poluentes, não geram empregos e produzem somente para exportação. Por isso fica difícil pensar em formas alternativas de se produzir energia”.

Os representantes do MAB também afirmam que a recuperação das turbinas e o isolamento adequado dos fios evitaria os 17% de energia desperdiçada todos os anos. Enquanto isso, no Vale do Ribeira, as comunidades quilombolas se organizam contra a construção de quatro barragens no rio Ribeira – uma delas, do empresário Antônio Ermírio de Moraes – que vão elevar as águas à altura de 30 metros, inundando as terras das 53 comunidades locais. O empresário não respondeu às solicitações de entrevista. Na Secretaria do Meio Ambiente, há dois anos, ele chamou os quilombolas do Vale “micro problema”.