Fórum não é só um evento, é um processo

A frase acima abriu oficialmente o Fórum Social Mundial - durante a primeira coletiva de imprensa. A autora da definição foi Maria Luisa Mendonça, da Rede Social de Justiça e Direitos Humanos

Por André Deak

Porto Alegre, 31 de janeiro de 2002 - O Fórum não é um evento que se inicia e termina com data marcada: é um processo, um espaço da sociedade civil organizada, a partir do qual outros projetos se desenvolvem. É uma forma de construir propostas concretas e dar visibilidade a elas. Foi com essa explicação que Maria Luisa Mendonça, da Rede Social de Justiça e Direitos Humanos, abriu a primeira coletiva de imprensa do 2º Fórum Social Mundial.

Ela disse também que, esse ano, a participação das redes sociais foi priorizada, e por isso muitas conferências serão apresentadas por elas. "No ano passado eram esperadas quatro mil pessoas, vieram 20 mil. Imaginávamos que teríamos 60 oficinas, tivemos 400. Esse ano, temos 13 mil delegados, mais de 700 oficinas e mais de 100 seminários. As propostas concretas, que muitas dessas entidades discutirão, são o elemento mais rico desse Fórum", afirmou.

Oded Grajew, da Cives, disse que está sendo planejado, para o segundo semestre de 2002, um Fórum Regional em Jerusalém. "Vamos tentar, mas é um trabalho difícil. A paz e a justiça mundial são nosso objetivo e é a sociedade civil que tem que empurrar os governos nesse sentido. Vamos ter problemas com o governo de Israel, com grupos radicais, mas temos que fazer com que essa questão da guerra seja um problema de todos nós", afirmou.

Olívio Dutra, governador do RS, pareceu não estar preocupado com a segurança: "A ONU considerou o Brasil o 3º país mais violento do mundo. Mas o Rio Grande do Sul é o 23º, em grau de violência, entre todos os Estados do País. Aqui, não pensamos que violência seja combatida armando mais a polícia, mas com medidas sociais. Por isso, não tomamos nenhuma medida excepcional. A segurança dos nossos convidados é a mesma segurança que o cidadão do RS tem."

Kjeld Jakobsen, da CUT, aproveitou para falar do caráter pacifista do Fórum: "aqui se admite qualquer tipo de manifestação, desde que seja pacífica. Por isso negamos o cadastramento, como delegados, do ETA (grupo terrorista espanhol)". Jakobsen disse também que negaram o cadastramento como delegado de um representante do governo belga, e explicou: "Grupo terrorista, neoliberal, pode até vir, claro, mas não como delegado - a não ser que os convidemos. Nos fóruns do governo a sociedade civil pode entrar e falar o
que quiser? Não. Então, aqui, eles têm o mesmo tratamento".

Estiveram presentes na mesa, além dele, Tarso Genro, prefeito de Porto Alegre, Olívio Dutra, governador do RS, Oded Grajew, da Cives, Sérgio Haddad, da Associação Brasileira de Ongs (Abong), Kjeld Jakobsen, da CUT, Cândido Grzybowsky, do Instituto brasileiro de Análises Sociais e Econômicas (Ibase), Francisco Whitaker, da CNBB, Maria Luisa Mendonça, da Rede Social de Justiça e Direitos Humanos, Carlos Tibúrcio, da Attac, e Egídio Brunetto, do MST.