Quilombo do FSM retoma o grito de Durban

Bandeira que sacudiu a Conferência da ONU deve virar campanha mundial: a cobrança de indenização dos que lucraram com o tráfico negreiro

Por Daniel Merli

Porto Alegre, 30 de janeiro de 2002 - A proposta de reparação aos descendentes de escravos ganhou visibilidade mundial em setembro de 2001, quando convulsionou a Conferência da ONU sobre discriminação racial, que acontecia em Durban, na África do Sul. Os países que seriam atingidos pela medida (que exige reparação dos governos que lucraram com o tráfico humano) retiraram-se do debate ou tentaram barrá-lo.

O Fórum Social Mundial será o primeiro reencontro dos que lutaram em Durban. "É a hora de nos reunirmos novamente, preparar um discurso comum para todo o planeta, e retomar essa bandeira, agora em cada um dos países", afirma Carlos Adeir da Silva Borges. Ele é militante da Unegro, uma das entidades que participam do Comitê Afro do FSM.

Para aglutinar esse debate dentro da miríade de discussões do Fórum, os negros resolveram criar o Quilombo (*) Milton Santos e Lélia Gonzáles, nos prédios 8 e 9 da PUC (Pontifícia Universidade Católica). Batizado com o nome do geógrafo negro e da atriz brasileira negra, o Quilombo será inaugurado dia 1º de fevereiro às 14h, com recepção às delegações afro latinas e africanas. Para marcar a abertura do Quilombo, também será entregue um documento às autoridades públicas municipais e estaduais convidadas, exigindo políticas públicas de combate ao racismo.

Quilombo com plenárias unindo o movimento negro e um Tribunal dos Povos

A partir daí, o Quilombo concentrará mais de 20 oficinas, ao longo do Fórum, sobre temas relacionados ao combate do racismo. No Salão de Atos da PUC, dia 3, o Comitê Afro faz um seminário sobre políticas públicas. "Queremos discutir, de uma maneira bem aberta, todas as propostas, como, por exemplo, cotas nas universidades", adianta Carlos.

Dia 4, será feito o Tribunal dos Povos Afro e Indígenas, para julgar o massacre e a expropriação que sofreram os mais antigos habitantes do continente americano e a exploração dos africanos arrancados de sua terra. Acabado o processo, será lido um manifesto de unidade dos movimentos negro e indígena e a cantora Leci Brandão fará uma apresentação.

Ao final de cada dia, no Quilombo, serão realizadas plenárias, como "momento de aglutinação política", na definição de Carlos, "um momento de reunir as experiências acumuladas nas oficinas e debates e construir alguns pontos em comum".

Todo esse esforço de discussão desembocará na Carta de Porto Alegre, o manifesto que deve ser redigido pelo grupos participantes do FSM no dia 5. "A meta é estarmos com algumas posições fechadas para defendermos na Carta", explica Carlos.

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